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O Horla - A criatura que veio de S. Paulo


O Horla” (Le Horla) é um conto de terror concebido em 1886 pelo francês Guy de Maupassant, considerado um dos maiores contistas da Literatura Ocidental. Também é apontado como uma das principais fontes do Horror Cósmico e do Movimento Weird, gêneros que misturam Terror, Fantasia e Ficção Científica. Influenciou H.P.Lovecraft, Stephen King, o Universo Alien e várias legiões de monstros e bizarrias.


Nele, Sampa recebe uma curiosa e macabra honraria. O autor informa que Le Horla — a terrível criatura do conto teve origem na Província de S. Paulo por volta de 1850.


“E aqui está, meus senhores, para acabar, um pedaço de jornal que me chegou às mãos e que vem do Rio de Janeiro. Eu leio: ‘Uma espécie de epidemia de loucura parece grassar há algum tempo na província de S. Paulo. Os habitantes de várias aldeias fugiram, abandonando terras e casas e pretendendo-se perseguidos e comidos por vampiros invisíveis que se alimentam de sua respiração enquanto dormem e que, além disso, só beberiam água e às vezes leite!’”


“O Horla” Guy de Maupassant (primeira versão – 26/12/1886)


O estrupício nebuloso, depois de grassar e submeter os paulistas, chegou à França através de uma galera brasileira que, festiva, navegava pelo rio Sena.


“Ah! Ah! lembro-me, lembro-me da bela galera brasileira que passou debaixo das minhas janelas, subindo o Sena, no dia 8 do passado maio! Achei-o tão bonito, tão branco, tão alegre! O ser vinha nele [sic passim], vindo de lá, onde a sua raça nascera! E viu-me! Viu a minha casa também branca; e saltou do navio para a margem. Oh! Meu Deus?”


“O Horla” – Guy de Maupassant (segunda versão – 1887)



Bom! Começando pelo epistolário jesuíta, não é a novidade atribuírem à cidade de S. Paulo a origem dos piores males. Por volta de 1635, quando, pela primeira vez, a palavra “paulista” foi registrada e os paulistas ganharam fama internacional junto ao Vaticano e ao mundo civilizado, fomos descritos assim pelos jesuítas castelhanos: feras tropas mamelucas, compostas todas de homens facinorosos, ímpios e tolerados ladrões”.


“Horla” é uma antecipação do panteão de Lovecraft, é um alienígena (“que ou quem é natural de outro país; estrangeiro, forasteiro; que ou o que pertence a outros mundos”, segundo o Houaiss), amoral, além e alheio das religiões e do sistema de valores humanos. Maupassant aponta São Paulo como origem da criatura (“vindo de lá, onde a sua raça nascera”), talvez para explorar a estranheza geográfica, como fez HPL com as ilhas dos mares do sul.


Intrigado e embalado por uma peculiar excentricidade de Le Horla — esse nosso antepassado sampaulista —, que gostava de livros e lia insaciável por trás do ombro de seus hospedeiros, escrevi um conto imaginando as aventuras desse apostema na garoa e neblina da cidade de São Paulo envolta em lendas, popularizadas pelos estudantes de Direito (lembrem-se de “Noite na Taverna”, 1855, de Álvares de Azevedo), bem no meio do Movimento Abolicionista.


Quem tiver interesse, este conto “Origem d’O Horla — Frank Miller” foi publicado na revista Diário Macabro n. 4, veja no site: https://www.facebook.com/groups/2167394793577904/?fref=nf



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